A primeira impressão: uma pequena cidade de fronteira, com free shops, celeiros e bem pequena. Uma população empobrecida. Uma região inserida no mundo em um ambiente moderno-antigo. Um ambiente com ares de ficção, com a tentativa de inserção em um mundo melhor. O que chega desse mundo global: coca-cola, perfumes e produtos chineses. No meio disso tudo, os maravilhosos doces de leites uruguaios.
A língua é uma pequena barreira, superada com paciência de acostumar o cérebro a nova língua, o ouvido ao novo som. No dia seguinte a viagem se inicia cortando o centro-norte uruguaio no meio de plantações de soja e arroz, de criação de ovelha e gado. As cercas de titânio demarcam o latifúndio que empobrecem a população e sobre o manto da propriedade privada começa a segunda destruição dos pampas, dessa vez mais ecológica e aumentando a pobreza do interior: os eucaliptos. Vastas extensões de terras com a monocultura do eucalipto para servir de matéria prima para empresas “papeleras” que se instalam na bacia do prata e nas beiras do rio uruguai em uma nova onda colonialista, dessa vez dentro do ultra-imperialismo que marca o atual estágio do capitalismo.
As cidades são todas pequenas, a capital do departamento de Treinta y Três demonstra isso. São perspectivas que nunca tinha imaginado.Assim, pela rota oito vamos chegando a Montevidéu e cortando uma área periférica, bairros com casas simples de alvenaria e sem calçamento, mas sem a concentração populacional de metrópoles como Rio e São Paulo, e mesmo Porto Alegre. Na Rua uma frota bem antiga de carros.
Dia 09 de janeiro, chegamos ao terminal Três Cruces. Um ambiente novo, com informações turísticas necessárias para viajantes independentes. Dali um táxi até hotel e um percurso que nos apresenta um pouco da cidade, com bastante prédios históricos e pouco prédios modernos, mas em uma impressão superficial, muito melhor que a pressão imobiliária que atualmente assola a cidade do Rio, de Niterói e de Nova Friburgo, em menor grau. Pichações com causas políticas-sociais por toda a parte. A cidade nos trás um bom clima. No primeiro passeio uma passagem pela Plaza Independência rumo a Ciudade Vieja e ao porto.
A Bacia do Prata nos é apresentada, o rio mar, por onde escorreram o sangue, dos negros e charruas, e a prata para enriquecer a famosa Europa. O primeiro assalto as riquezas da América Latina. O porto está bem movimentado, cheio de containeres, possivelmente de produtos de origem chinesa para abastecer as lojas e os free-shops nas fronteiras do país.
O mate, chimarrão, é cotidiano. Nas ruas as pessoas com suas cuias e garrafas térmicas. Muitos idosos. Desde Pelotas que o dia é longo, e isso parece dar um ar de tranqüilidade a maior cidade do Uruguay, com quase a metade da população. Essa migração campo-cidade se agrava com a falta de uma reforma agrária pelo interior do país. Se não tem os problemas que assolam as grandes capitais do país, poderá um dia acontecer.
A influência brasileira é muito grande, se escuta muita música brasileira, principalmente MPB e samba, como Maria Bethânia, Alcione, Beth Carvalho e Martinho da Vila. A qualidade de vida parece ser muito boa, o custo de vida é mais barato. Mas a “barra” pesa para os Uruguaios, comparativamente os salário mínimo é o mesmo do Brasil, o que para uma família com certeza é muito difícil para sobreviver. O transporte é bem barato. A frota de carro e ônibus é bem antiga, mas já há ônibus novos, principalmente de fábricas chinesas. Me parece que há um comércio bem forte Uruguai-China.
Estando lá, em outro país, percebemos o quanto o Brasil vem se tornando um Estado Imperialista. Como diz Bakunin: Estado é dominação. È isso que me parece acontecer, os sindicatos protestam contras as empresas brasileiras que vem comprando empresas uruguaias e mesmo conseguindo concessão do governo para exploração no país. Por toda Montevidéu pichações contra a Camargo Corrêa, construtora brasileira. Por outro lado um grande dilema e debate assolam o Uruguai e toda parte sul da América Latina, a plantação de monocultura de Eucalipto e a instalação de Fábricas de Celulose. O Governo uruguaio já autorizou o plantio e a construção de fábricas, como a norueguesa ENCE. A estrutura agrária concentrada facilita esta implementação. O governo clama por esses investimentos, uma vez que o economia uruguaia está assentada na pecuária, e a celulose é importante comoditties no mercado internacional, que vem crescendo com a formação de uma sociedade do consumo no BRIC(Brasil, Rússia, Índia e China) .Assim, segundo o governo da Frente Ampla, que conta com a participação dos TUPAMAROS, se auto-nomeia capitalismo progressita. Se é que isso é possível. Enfim, o MLN-Tupamaros se adequou a ordem, em todos os sentidos. A ditadura Uruguai estabeleceu uma emigração forçada, uma diáspora que deixou o país quase seco de forças sociais e coletivas que pudessem encher de energia as ruas e transformar radicalmente esse pequeno país. Talvez a tranqüilidade que Montevidéu me causou esteja no fato de que, diferentemente da babilônia carioca/brasileira, de muitas crianças e jovens, lá há relativamente menos.
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