quarta-feira, junho 04, 2008

Nova Friburgo 200 anos: 100 anos de autocracia burguesa.

"tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governa-lo"
Mikhail Bakunin


A comemoração dos 190 anos da fundação da cidade foi marcada pelo lançamento da campanha dos 200 anos do município. As associações da classe capitalista na cidade (ACIANF, FIRJAN, etc) em conjunto com outras organizações já começaram a comemorar. O anacronismo e arcaísmo dos progressistas da cidade são expressos na visita do suposto príncipe em visita a cidade.
A arcaísmo/anacronismo dessas comemorações me deixa cada vez mais surpreso. Não que me assuste, apenas confirma minhas convicções. Por isso, desde século XIX, Bakunin já defendia a atuação operária fora da política burguesa, ou seja, do estado e do parlamento.
Há cem anos atrás começaram a construção de um mito de origem, que ficou impresso no hino da cidade. Esse mito em nada tem haver com a experiência das classes subalternas, dos camponeses, sitiantes, escravos – depois ex-escravos - e trabalhadores agrícolas. E depois se criou uma ideologia (no sentido marxista) para encobrir os conflitos de classe e a constante exploração e opressão sobre os novos operários.
Para tristeza dos ideólogos do projeto liberal a transformação de um amontoado de indivíduos, ou como diria Gramsci, das classes subalternas, em Classe Operária foi muito rápido. Já em 1918, talvez com os ventos da Revolução que assolava o mundo, irrompe uma greve nas fábricas do empresário Julios Arp.
A Classe Operária se autoconstruiu, mas infelizmente não ao ponto de questionar a autocracia burguesa. Isso porque o sindicalismo de estado, implantado por Vargas, a repressão sobre os comunistas da Ditadura Varguista e na Ditadura Civil-Militar (64-89), fora a forte repressão sobre os militantes combativos impediu a vitória da classe operária. Fora os problemas internos e a linha política idealista do PCB.
Em 1964, o golpe sobre os trabalhadores, leva ao trono da cidade Heródoto Bento de Mello, que contraditoriamente, se é que podemos falar disso da burguesia e seus aliados, é o propagador, defensor da Suíça Brasileira. Funcionário do DER logo o liberal assumiu o cargo de ditador da Suíça Brasileira.
Nesse momento há uma ruptura com o processo de formação da classe. Sem projeto, ou força coletiva, que expressasse o "poder operário", mesmo na conjuntura dos anos 80.
Ao contrário da propagada ideológica do "Paraíso Capitalista" o longo ciclo de dominação transformou-se em uma decadência, decorrente da crise dos anos 80 e posteriormente do setor têxtil. Não que a exploração cessasse. Paraíso Capitalista significa a exploração e dominação de forma consentida pelos operários, e isso mudará no final da década de 90.
No inicio dos anos 90, a velha classe operária está destruída. Depois de 25 anos de ditadura, interiorizado um modo de dominação, ela é abalada pelas demissões, fechamento de fábricas e perda do seu modo de sociabilidade. Poucos enriqueceram com a desgraça de centenas de operários e operárias, e uns poucos hoje são empresários a escravizar as costureiras. Isso é assunto para outra debate.
No final dos anos 90, os filhos dos trabalhadores organizam imensas mobilizações pelo passe livre, diminuição da passagem, contra a privatização da AMAE, mas se a consciência das possibilidades de suas ações, as vitórias são bem reduzidas, mas demonstra o poder da classe trabalhadora que só podem contar consigo mesmas e com as ruas e barricadas, porque essas nunca a traíram.
Por enquanto a autocracia burguesa continua, até quando? Não sei. Espero que por pouco tempo.

"Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence."
Bertolt Brecht

"O povo não deve temer seu governos. Mas o governo deve temer seu povo" - "V", na HQ de V for Vendetta

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